Oito em cada dez brasileiros encontram dificuldades em controlar as próprias despesas. O consumidor médio brasileiro gasta mais do que ganha, não guarda dinheiro e não planeja o próprio futuro. As conclusões são de uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), entre os dias 18 e 24 de dezembro de 2013.
De acordo com os resultados do levantamento, somente 18% dos entrevistados têm conhecimento total sobre o fluxo de receitas e despesas no orçamento pessoal. A maioria (71%) tem apenas conhecimento parcial de suas finanças e outros 10% têm baixo ou nenhum conhecimento.
Entre os que têm renda domiciliar de até R$ 1.330,00, o conhecimento pleno é de 16%, somente 15% dos que ganham entre R$ 1.331,00 e R$ 3.140,00 apresentam total conhecimento sobre as próprias contas e, dentre os que têm renda acima de R$ 3.141,00, o percentual sobe um pouco mais para 23%.
Na opinião da economista do SPC Brasil, Luiza Rodrigues, os dados fortalecem a ideia de que a educação financeira está ligada ao comportamento e não necessariamente à renda dos indivíduos. “É uma questão de hábito. Mais dinheiro no bolso nem sempre significa melhor comportamento financeiro, incluindo pagamento de contas, uso do crédito e hábito de compras”, explica.
Comportamento de risco
A pesquisa constatou uma sucessão de comportamentos que demonstram a falta de planejamento dos consumidores. Mais de um terço dos brasileiros (36%) admitiram não saber o valor exato das contas que terá de pagar no mês seguinte. Já em relação aos gastos extras, a maioria (57%) também afirma não saber com precisão o quanto terão de desembolsar no próximo mês, fato que dificulta o planejamento e o controle financeiro do próprio orçamento.
Como consequência direta da falta de conhecimento sobre as próprias despesas, 36% dos entrevistados afirmaram terem deixado de pagar ou terem pago com atraso alguma conta nos últimos 12 meses. Faturas de cartão de crédito (31%) e despesas fixas, como água, luz e telefone (28%) se destacam como os principais compromissos que não foram pagos em dia.
Outro dado preocupante é que quatro em cada dez brasileiros que possuem conta corrente em banco admitem terem entrado pelo menos uma vez no cheque especial nos últimos 12 meses. O mesmo se repete entre os que têm cartão de crédito. Pelo menos 40% deles já deixaram de pagar a fatura integral no último ano, sendo que 26% são reincidentes e atrasaram mais de duas vezes ao menos.
“Cheque especial e cartão de crédito são as modalidades que cobram os juros mais altos do mercado. O atraso no pagamento dessas contas tem consequências perigosas para o consumidor”, alerta Luiza Rodrigues.
Um número revelador do estudo é que mesmo entre os que sabem pelo menos um pouco sobre suas finanças, há uma parcela significativa (28%) de pessoas que não utiliza um método organizado e faz o controle financeiro apenas “de cabeça”.
“É preocupante que um contingente tão expressivo da população não utilize um método sistemático para organizar as próprias contas”, alerta a economista Luiza Rodrigues.
A economista Luiza Rodrigues afirma que o consumidor não deve ter vergonha de utilizar o caderninho de anotações na hora de controlar as despesas. “Não importa a ferramenta, importa que o método seja organizado. Algumas pessoas têm facilidade com planilhas ou aplicativos, mas outras não. O fundamental é sempre registrar tudo o que se ganha e se gasta e jamais confiar na memória porque ela falha”, orienta a economista.
Os entrevistados foram indagados também sobre as dificuldades que enfrentam na hora de fazer o planejamento das contas. A maior parte dos consumidores (39%) alegou que a falta de disciplina para registrar todos os gastos é o principal empecilho. Outras opções como unir todas as informações (29%), recordar todos os pagamentos que não constam no extrato bancário (28%), falta de tempo (23%) e não saber calcular taxa de juros (11%) também foram citadas pelos entrevistados.
A pesquisa revelou que seis em cada dez entrevistados chegaram ao fim do ano de 2013 sem ter conseguido poupar nenhum centavo. Na avaliação dos especialistas do SPC Brasil, a constatação é reflexo da “cultura do imediatismo” que conduz o pensamento de boa parte dos brasileiros. De cada dez entrevistados, pelo menos quatro admitem que costumam adquirir produtos mesmo não tendo condições de gastar, ainda que eventualmente.
Do universo de entrevistados, 30% reconhecem ter comprado, nos últimos três meses, algum bem que fez com que excedessem seu limite financeiro. Nesse quesito, os itens líderes de parcelamento são as roupas e calçados (63%), eletrônicos (58%) e eletrodomésticos (44%).
Falta educação financeira
Para os especialistas do SPC Brasil, a educação financeira não se resume ao simples ato de poupar dinheiro. Trata-se de adotar uma atitude consciente ao impor critérios na utilização dos recursos financeiros e saber planejar as próprias contas para um período de longo prazo.
“A falta de conhecimento financeiro por grande parte da população é um gargalo no Brasil. Por isso é importante incluir o tema na formação básica dos cidadãos. Controle de gastos, planejamento e evitar compras por impulso são algumas atitudes que se aprendem desde pequeno”, defende a economista.
Foram entrevistadas 656 consumidores em todas as capitais brasileiras, entre os dias 18 e 24 de dezembro de 2013. A margem de erro é de 3,8 pontos percentuais e a margem de confiança é de 95%.
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