Pesquisas recentes relativas à equação entre previdência e longevidade mostram índices assustadores na forma como as pessoas se preocupam com a possibilidade de envelhecer sem os devidos recursos financeiros.

Os estudos indicam uma preocupação crescente entre os que estão na meia-idade — na faixa dos 40 anos — e ainda não se planejaram para garantir reservas que permitam um envelhecimento tranquilo.

Um levantamento realizado pela Wells Fargo Institutional Retirement de Charlotte (EUA), por exemplo, constatou que 22% de seus clientes que tem entre 40 e 50 anos “preferem morrer mais cedo, caso não tenham dinheiro para viver confortavelmente na aposentadoria”. Em outro estudo da seguradora Allianz, 77% das pessoas com 40 anos disseram que temiam durar mais que seu dinheiro na aposentadoria. Entre os casados, com filhos, o índice atinge 82%.

Na opinião do professor de Harvard Michael Norton, estudioso do assunto, esse medo pode ser agravado quando os pais se sentem fracassados ao não conseguir deixar uma herança para os filhos — e/ou de se tornarem um fardo financeiro para eles. Um alto índice dessas pessoas considera qualquer uma dessas situações muito pior do que a morte.

Vale ressaltar, porém, que no Brasil e em outras partes do mundo, a dependência não ocorre apenas no campo financeiro. Muitos pais criam filhos sem nenhum grau de autonomia, ao mesmo tempo em que envelhecem cobrando afeto, atenção e a presença deles. Ou seja, se tornam dependentes do carinho e cuidados de filhos adultos que já assumiram outras responsabilidades.

Envelhecer com dignidade exige cuidar de si mesmo. Como diz Nilton Bonder, “a qualidade da nossa velhice está intimamente ligada a nossa vida hoje”. Nossos índices de longevidade estão aumentando e não podemos nos acomodar, esperando por políticas públicas ou mudanças rápidas na previdência social.

Dessa forma, é preciso ter em mente alternativas para criar autonomia financeira e fixar um projeto de vida para essa etapa da vida. A seguir, algumas sugestões:

— Inicie um processo disciplinado de economizar pequenas quantias e, aos poucos, vá aumentando esse valor;

— Adie sua aposentadoria por alguns anos como forma de encontrar meios para complementar sua renda;

— Reduza seu padrão de vida fazendo alguns cortes no orçamento doméstico;

— Controle os impulsos ao consumismo desenfreado, especialmente se ele estiver baseado nos encantos da publicidade ou em comparações com vizinhos, amigos e familiares,

— Planeje sua vida financeira, pessoal e profissional;

— Busque preventivamente um projeto de vida para sua etapa após a aposentadoria;

— Eduque filhos para a vida, não para você.

Enfim, incorpore este assunto como mais uma responsabilidade exclusivamente sua, pois ela não pode ser delegada.

Renato Bernhoeft é fundador e presidente do conselho de sócios da höft consultoria.

Fonte: Valor Econômico – 06/03/2015

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