Valor Econômico publica artigo de especialista da ELETROS. Confira!
25/01/2018
Por Jair Ribeiro
O que o mercado indica com as projeções econômicas para 2018?
Neste momento as projeções econômicas são muito relevantes para as estratégias e para a rentabilidade dos investimentos do ano. De uma maneira geral, as previsões têm apresentado um índice de acerto abaixo do desejado, mas quando relativizamos a precisão numérica e nos voltamos para o conteúdo, buscando interpretar a lógica das principais variáveis, ganhamos muito em qualidade.
Uma importante fonte de referência é o Focus – Relatório de Mercado, disponibilizado semanalmente ao público pelo Banco Central, compreendendo o conjunto de opiniões de bancos, gestoras de recursos, consultorias e outros, e refletindo as expectativas de mercado com eficiência.
Não é preciso examinar todas as informações divulgadas pelo Focus para chegarmos às indicações; pelo contrário, a simplificação é mais útil neste caso. Devemos apenas lembrar que as projeções econômicas são o resultado da combinação do cenário interno e externo, não há como dissociar um do outro, principalmente porque temos visto, nesses últimos meses, como o ambiente internacional vem favorecendo a conjuntura local. Desde fevereiro de 2016 que a situação global tem impulsionado a valorização dos ativos financeiros dos países emergentes como um todo e do Brasil, em particular.
Selecionamos quatro variáveis macroeconômicas que estão apresentadas na tabela e que resumem as expectativas para 2018 do Focus de 19 de janeiro último pelo critério agregado.
Expectativas para 2018 |
|
Crescimento do PIB |
2,70% |
IPCA acumulado do ano |
3,95% |
Taxa Selic de dezembro |
6,75% ao ano |
Dólar de dezembro |
R$ 3,34 |
Fonte: Banco Central – relatório Focus de 19 de janeiro de 2018.
As três primeiras linhas da tabela representam mais diretamente o cenário interno. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seria de 2,70%, o mais alto em cinco anos. É natural que o maior dinamismo interno pressione os preços e, como consequência, a inflação do IPCA, apresentada na segunda linha, subiria um pouco para 3,95%, contra 2,95% em 2017 – ainda assim permaneceria abaixo da meta oficial.
Em geral, a combinação de maior crescimento econômico com inflação em alta requer uma política monetária mais restritiva e, eventualmente, um aumento na taxa de juro. Não é o que vemos na terceira linha da tabela, na qual a expectativa para a taxa Selic de dezembro está em 6,75% ao ano, uma queda de 25 pontos-base que ocorreria já na reunião do Copom de fevereiro, resultando em juro real, depois de descontada a inflação do IPCA, muito inferior ao de 2017 e um dos mais baixos do passado recente. Para concluir se essa situação é sustentável, deveríamos examinar o seu comportamento nos anos seguintes – um bom tema para um próximo artigo.
A quarta linha da tabela mostra a expectativa para o dólar, variável que funciona como importante medida do risco integrado do cenário interno e externo. A projeção para dezembro é de R$ 3,34, representando uma valorização de apenas 0,8% em relação ao fechamento de 2017 e, portanto, muito inferior à inflação deste ano. Além da pequena variação cambial esperada, impressiona também a estabilidade que o mercado prevê para o dólar na medida em que a cotação futura pouco se alterou depois de várias semanas consecutivas.
Ao analisarmos o conjunto das quatro variáveis da tabela em relação aos principais riscos internos e externos, podemos deduzir que as perspectivas para 2018 são otimistas. Se considerarmos que as eleições são a principal incerteza interna, não há indicação de que o mercado esteja antevendo ameaças importantes provenientes da disputa eleitoral; notamos que pouco tem afetado o crescimento do PIB, a taxa de juro e a inflação, bem como as expectativas para o dólar.
A estabilidade do dólar confirma o otimismo, estendendo a visão favorável do mercado também para o cenário externo. Partimos da premissa de que o cenário interno positivo não se sustenta sem a decisiva contribuição externa, o contrário deve ser rejeitado e os fatos recentes sustentam essa tese.
O principal risco do cenário externo pode ser atribuído à trajetória do rendimento dos títulos de 10 anos do Tesouro americano; uma subida descontrolada dessa taxa poderia ser desastrosa para o mundo e provocar uma considerável turbulência no mercado internacional, impactando as moedas e demais ativos financeiros. A tranquilidade do dólar no Focus mostra que essa hipótese é menos provável e que o cenário externo continuaria beneficiando o Brasil.
Nós que lidamos com projeções sabemos que o viés otimista é um dos seus pontos mais questionáveis, é possível que essa tendência esteja implícita no Focus – Relatório de Mercado, mas a conclusão que tiramos dos números aqui apresentados é de que indicam riscos baixos e um desempenho promissor das variáveis macroeconômicas do país em 2018.