Uma pesquisa feita pela UCLA mostrou que longas recentes não-representativos deixam de ganhar até 130 milhões de dólares
A tentativa de aumentar a diversidade no cinema segue em alta, e um novo estudo indica que, além de atender às reivindicações sociais, a representatividade exerce uma influência positiva nas bilheterias. A pesquisa, feita pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), analisou 109 filmes, entre 2016 e 2019, e concluiu que um elenco diverso em gênero, etnia e orientação sexual melhora o desempenho comercial dos filmes, enquanto a ausência de rostos diversos nas telas pode reduzir o lucro dos estúdios em até 130 milhões de dólares por filme.
Para ranquear as produções, o grupo adotou um índice métrico chamado AIR (da sigla inglesa Authentically Inclusive Representation, ou Representatividade Verdadeiramente Inclusiva, em tradução livre), que mensura a diversidade de personagens e culturas de uma narrativa, dentro e fora das câmeras. Os pesquisadores compararam os resultados com o site Mediaversity Review, especializado em traduzir a diversidade nas telas em números, e alinhado às análises de sites como o Metacritic e Rotten Tomatoes. Com o índice pronto, cada filme recebeu uma nota, e uma “média de diversidade” foi estabelecida.
Os resultados indicam que filmes com grandes orçamentos, como os famosos blockbusters, não escapam da tendência e, na verdade, perdem proporcionalmente mais dinheiro do que os menores. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores dividiram os filmes em três categorias: os de alto, médio e baixo orçamento. Na primeira categoria, que compreende os longas com custo de produção acima de 159 milhões de dólares, a porcentagem de filmes abaixo da média de diversidade foi de 52%, número que se repetiu também na categoria mediana, com orçamentos de 15 a 78 milhões de dólares. Um longa produzido com 159 milhões de dólares, por exemplo, sem abordar protagonistas diversos, como mulheres, negros e não-americanos, pode perder mais de 32 milhões só na primeira semana de exibição, o que representa 20% de seu orçamento — valor que pode saltar para 82% durante todo o período em cartaz. Já um filme que despendeu de 78 milhões de dólares, ou seja, de orçamento médio, deixaria de arrecadar 71% desse valor, mesmo que a categoria tenha o mesmo percentual de diversidade.
A exemplo de comparação, Rogue One (2016), considerado acima da média de diversidade, dispendeu 200 milhões de dólares para ser produzido, e arrecadou 155 milhões na semana de estreia (77,5% do orçamento), enquanto Han Solo(2018), filme da mesma franquia abaixo da média no AIR, gastou 275 milhões de dólares para ser produzido, e recuperou 84,4 milhões na primeira semana, apenas 30,7% do valor gasto na produção e menos da metade de Rogue One. Nada é tão representativo nesse sentido quanto Pantera Negraque, mesmo sendo um dos maiores orçamentos do Universo Marvel (cerca de 200 milhões de dólares), conseguiu recuperar 100% na semana de estreia, com um elenco quase totalmente negro.
No cinema de baixo orçamento, 81% dos filmes analisados ficaram acima da média no quesito representatividade. A exemplo disso, Moonlight (2016), sobre um jovem rapaz negro, arrecadou 1,5 milhão de dólares na primeira semana, 37,5% do orçamento de 4 milhões, enquanto Lady Bird, protagonizado por uma mulher, embolsou 2,5 milhões de dólares, 25% dos 10 milhões gastos para produzi-lo.
“Nós nos perguntamos, qual o preço da falta de diversidade? Hollywood é um negócio, e nenhum negócio quer perder dinheiro”, disse Yalda T. Uhls, fundador do Center for Scholars and Storytellers – núcleo responsável pela pesquisa – em entrevista ao site Dealine. “Aumentar a representatividade numérica por trás e em frente às câmeras é importante, mas o ponto chave é realmente empoderar pessoas de diversas origens”.
Fonte: https://veja.abril.com.br/
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